CAUSAS

AMBIENTAIS

COMUNICAÇÃO

DE

Aprendizado compartilhado por Paula Piccin, Coordenadora da Comunicação Institucional do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ)

E A

AS

CRISES

O INÍCIO

Paula Piccin é jornalista de formação e conta que nunca pensou em atuar no terceiro setor. Relaciona esse fato a não ter tido contato com essa possibilidade durante a graduação: “Éramos formados para atuar em redação e assessoria de imprensa, em um campo mais tradicional”, conta. Ela conheceu o IPÊ quando ainda era estagiária em uma assessoria de imprensa e então, se encantou com a história e a missão do Instituto.

Quando chegou ao IPÊ, em 2003, o Instituto já tinha grande reconhecimento no campo acadêmico e era vencedor de prêmios, no entanto, procuravam alguém para ampliar sua visibilidade. É assim que Paula começa sua jornada no terceiro setor, comunicando causas. 

Ao chegar no IPÊ, abriu-se uma porta para novos conceitos e abordagens, desconhecidos por ela até então. Sua primeira missão foi estruturar um núcleo de comunicação no Instituto. Paula relata que tentou implementar aprendizados do setor corporativo no trabalho da organização, mas entendeu que não é bem assim: “Comunicar causas é muito diferente.”

COMUNICAÇÃO

COMUNICAÇÃO

INSTITUCIONAL

VS

DE CAUSAS

Ela ainda complementa: “Quem não é da comunicação custa a entender que precisa de investimento. Além de boas histórias, é preciso estrutura. E, hoje, para ter alcance é preciso dinheiro.”

Sabemos das particularidades de organizações sem fins lucrativos e dos desafios enfrentados cotidianamente. Muitas vezes os recursos são escassos ou o acesso a eles é burocratizado. Então, até hoje em dia, ter alguém responsável pela comunicação dentro de uma OSC é um “luxo”, que nem todas conseguem arcar.

De acordo com a Paula, o cenário de comunicação em OSC evoluiu bastante. Ela conta que em 2003 convidou algumas organizações para uma roda de conversa, para troca de experiências em comunicação, e lembra que falar sobre estratégias de marketing naquela época era um tabu, porém “hoje está comprovado que, quando feito bem feito, [o marketing] melhora o trabalho.”

Ela conta que chegar no nível de estruturação atual da área de comunicação, foi um longo processo de convencimento, um trabalho de formiguinha, uma vez que o IPÊ nasceu como instituto de pesquisa, sem características ativistas, e só depois de algum tempo aprendeu a importância de inserir a comunicação em sua estratégia.

O Instituto se estrutura por meio de projetos e há alguns anos atrás a comunicação não estava prevista no escopo dos projetos. Isso gerava com frequência vários gargalos processuais, como quando o investidor cobrava a divulgação dos resultados.

Foi assim que a necessidade da comunicação de forma institucionalizada se tornou mais visível. Coordenadores(as) de projetos perceberam que os projetos que já contemplavam a comunicação em seu escopo conseguiam resultados melhores em visibilidade e posicionamento. Paula conta que “hoje os coordenadores de projetos entendem a importância da comunicação e colocam até metas de comunicação dentro do escopo do projeto.”

Hoje, ela que coordena a comunicação do Instituto, participa do grupo de tomada de decisão e relembra: “a comunicação deve refletir a cultura organizacional.”

Paula trouxe uma visão muito interessante e não-óbvia sobre o papel de um(a) comunicador(a) dentro de uma organização:

Para organizações que trabalham com temas complexos, ou que estão relacionadas à pesquisa, é preciso reforçar a importância da tradução da linguagem técnica para a popular. É preciso pensar em quem vai ouvir, ou ler a mensagem, ao desenvolvê-la.

COMUNICANDO

NO

MEIO

DIGITAL

As redes sociais e o aumento da produção de conteúdo online, por youtubers e instagramers, popularizaram muito a noção de comunicação online acessível para todos.

Hoje é mais fácil de entender a importância da presença online e ter ideias de como fazê-lo, porém temos consciência que vivemos um momento único da história, que o teor de novidade vale para todos, por isso, os desafios da comunicação online são diários e constantes. “Tudo hoje é uma constante experimentação. As fórmulas prontas não dão conta mais”, reforça Paula.


O IPÊ procura pensar digital first em todas as áreas, não só na comunicação, mas também na organização e consolidação de dados. Nas redes sociais, o Instituto trabalha o reforço da marca, consolida todo o trabalho feito e apresenta seus resultados. Assim, quando as pessoas encontram a marca a partir de um produto, por exemplo, elas conseguem ter um panorama geral da organização a partir das redes sociais.

Quanto à linguagem utilizada, Paula nos diz que o IPÊ não gosta de pontuar o que há de negativo, mas sim de apontar o desafio e propor uma solução. Um exemplo de narrativa que utiliza essa abordagem é “Precisamos restaurar, porque assim conseguimos mudar a realidade socioambiental de determinada região”. “Como nascemos da pesquisa científica, somos mais adeptos do manifesto e da transformação,utilizamos as bases científicas para partirmos para a ação e pleitear mudanças apoiando políticas públicas”, finaliza Paula.

RECOMENDAÇÕES

BÁSICAS

PARA

COMUNICADORAS (ES):

O mínimo de organização é necessário:

Tenha seus resultados bem descritos

Registre as atividades realizadas e guarde bem as imagens

Eleja suas principais mensagens e segmente-as: não tem como usar o mesmo discurso para imprensa e financiador, por exemplo

Defina porta-vozes da organização para os diversos públicos (imprensa, financiadores, eventos, etc.)

A HORA

DA

PAUTA

AMBIENTAL

Devido a infelizes acontecimentos envolvendo algumas poucas organizações sem fins lucrativos, o termo ONG associou-se a organizações suspeitas e corruptas, minando a opinião pública e causando grandes danos a todo o terceiro setor.

Em 2019, vimos essa associação se extremar de forma injusta, encabeçada por representantes de Governo Federal, que responsabilizaram as ONGs foram pelos incêndios criminosos na Amazônia.

Com a chegada da pandemia, os olhos se voltaram novamente para essas organizações, porém desta vez de forma positiva, já que são elas que estão na linha de frente do combate emergencial aos impactos do novo coronavírus, nas área da saúde, assistência social e educação, principalmente. Assim, a ação da sociedade civil organizada se mostra cada vez mais imprescindível à nossa democracia e à manutenção do bem-estar social.

Temas complexos e polêmicos estão novamente em pauta, agora com caráter emergencial, como é o caso da questão ambiental, uma vez que a pandemia está intimamente relacionada aos impactos humanos no meio ambiente. 

Este artigo explica bem a relação entre pandemia e meio ambiente:

Paula comenta que agora o público está mais sensibilizado quanto ao papel das ONGs e da urgência da conservação ambiental, portanto está mais inclinado à mobilização. Sendo assim, é hora das organizações que trabalham pelo meio ambiente ganharem apoiadores fiéis. O IPÊ passou a comunicar para seu público a questão ambiental dentro do contexto da pandemia, apresentando mais conceitos de biodiversidade e oferecendo materiais educativos gratuitos. Além disso, estão em contato com professores das regiões onde atuam, alimentando-os com informações sobre educação ambiental.
  Relacionar o conteúdo da organização com assuntos do momento é efetivo para alcançar mais pessoas e convidá-las a se juntar à causa.

MOMENTO

DE

CRISE

É MOMENTO

DE

MUDANÇA

DE

ESTRATÉGIA

 

Durante a crise dos incêndios da Amazônia, apesar dos impactos negativos para as OSCs, o IPÊ, que tem importantes projetos naquela região, recebeu novos apoiadores, pessoas que entraram em contato interessadas em ajudar a instituição por confiar na seriedade do trabalho.

Os contatos foram uma surpresa para o Instituto, que não tinha uma estratégia desenhada para captação de recursos com pessoas físicas. Então, com o tema no centro da pauta de debates públicos e o recebimento de pessoas interessadas em serem doadores, o IPÊ criou uma página online de doação e iniciou uma campanha online para captação de doadores.

Essa campanha foi um marco na história do IPÊ, inaugurando uma estratégia mais estruturada de engajamento online e captação de recursos com pessoas físicas. Paula conta que na tentativa de alcançar novos públicos com características de doadores, o Instituto ganhou a atenção de vários haters. No entanto, essas intercorrências foram vistas como uma oportunidade para o diálogo, para educar e convidar a conhecer melhor o trabalho da organização.

Com a chegada da pandemia, a campanha foi pausada e teve sua linguagem atualizada para estar mais alinhada à atualidade. 

O IMPACTO

DA

VIVÊNCIA

COM A 

NATUREZA

NO

ENGAJAMENTO

DO

PÚBLICO

 

O IPÊ desenvolve um conjunto de estratégias de comunicação, para atender seus objetivos e públicos: parceiros e financiadores, comunidades atendidas pelos projetos, apoiadores e doadores da organização.

Junto a organizações parceiras e financiadoras, como as empresas Havaianas, Danone Faber-Castel e Brahma, o IPÊ desenvolveu grandes campanhas de comunicação, utilizando uma estratégia de Marketing Relacionado a Causa. Dessa forma, o Instituto alcançou novos públicos por meio de produtos desenvolvidos com as empresas e da capilaridade comunicacional delas, contribuindo para a disseminação da causa ambiental e o fortalecimento da marca da organização.

Vídeo da campanha Havaianas e IPÊ, 2014

Paula relata que o público que apresenta engajamento mais forte são as comunidades atendidas pelos projetos do IPÊ, uma vez que convivem com a equipe e veem, no dia a dia, os impactos do trabalho.

Além das comunidades, o IPÊ tem também a prática de convidar apoiadores e doadores para um “dia de experiência” na instituição. As pessoas conhecem de perto o trabalho e podem ter contato vivencial com a natureza, colocando a mão na terra, literalmente.

Convidar o público para perto e deixar as portas abertas para a participação é uma estratégia de engajamento muito relevante e preconizadas pelo Marketing 4.0.

Como mais organização podem convidar pessoas a se aproximarem de suas causas, de forma prática e vivencial?

SOBRE O

IPÊ

O IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas – é uma ONG brasileira, fundada em 1992, dedicada à conservação da biodiversidade em bases científicas. Atua em pesquisas, formação de profissionais, educação ambiental e programas de geração de renda e negócios sustentáveis que ampliem a responsabilidade socioambiental de comunidades, empresários e formadores de opinião.

Sua missão é desenvolver e disseminar modelos inovadores de conservação da biodiversidade que promovam benefícios socioeconômicos por meio de ciência, educação e negócios sustentáveis.

CONTATO

Para conversar diretamente com a Paula, envie um email para paula@ipe.org.br
Para falar com a gente, escreva para causalidades@because.ag